Construção
Centro Cultural Octo Marques, Goiânia, Brazil
13 February 2024 - 23 March 2025
A solo show featuring works made in the Netherlands and Brazil between 2021 - 2025. Curated by Paulo Duarte-Feitoza and supported by Mondriaan Fonds.




















Construção, primeira exposição individual de Pedro Kastelijns, reúne um conjunto de mais de 100 trabalhos produzidos entre 2021 e 2025 que transitam entre desenho, pintura, música, fotografia, vídeo, performance e instalação. As obras, que foram realizadas entre Goiânia e Amsterdã, cidade onde o artista vive e trabalha desde 2017, navegam entre suportes e técnicas diversas, com o intuito de manifestar um universo próprio de maneira visual, sonora e espacial. O trânsito geográfico entre as duas cidades não apenas influencia seu fazer artístico e sua estética, mas permeia sua produção como um todo. Ao explorar a pergunta « Como construir uma casa e como viver nela? », o artista, em trânsito e marcado pela experiência migratória, procura um abrigo físico e emocional que se situa entre paisagens contrastantes e em diálogo: a urbanização precária do Brasil e a paisagem padronizada dos Países Baixos. Nesse percurso, emerge Manivela, uma figura recorrente em seu trabalho — uma mão estampada com tijolos, equilibrando uma vela sobre uma colher de cozinha. Esse personagem personifica a experiência de emigrar, de buscar um lugar no mundo e reinventar a própria realidade.
O processo criativo de Kastelijns tem o desenho e a música como base, e ambos passam principalmente pelo ato de brincar e pelo improviso. Como já demonstrou o filósofo Johan Huizinga em Homo Ludens, o brincar é um impulso congênito da criação artística. A maneira lúdica com que o artista experimenta materiais e técnicas se une ao automatismo para revelar trabalhos que fogem à harmonia. Muito pelo contrário, o artista explora a sujeira, o caos, o destoante, o conflitante. Na exploração dos materiais, Kastelijns escolhe elementos que não são exclusivos do vocabulário das artes plásticas, mas fazem parte da vida quotidiana, sendo facilmente disponíveis, reciclados, urgentes, improvisados e coletados. Sua linguagem é uma remixagem visual e sonora da saturação do mundo contemporâneo, marcada pela influência da cultura hip-hop, do grafite e das imagens apropriadas da internet.
Se o artista constrói e cria brincando, tudo isso emerge inexoravelmente da vontade e do contínuo experimentar. Para Kastelijns, “tudo começa na vontade” — um impulso visceral que o move, uma necessidade física de produzir com as mãos. Nesse processo, as tentativas são inúmeras, nem sempre certeiras, ora hesitantes, ora impulsivas, mas sempre essenciais. É no ritmo da repetição, na fricção do erro e na potência da descoberta que sua prática se afirma, revelando a criação como um campo aberto ao improviso, à experimentação e à constante transformação.
A exposição se organiza em dois grandes eixos. Na primeira sala, Kastelijns apresenta uma instalação multimídia que surge da vontade de questionar o espaço expositivo. Assim, o artista aborda a sala como um canteiro de obras, rompendo com noções de hierarquia no contexto expositivo e propondo uma experiência lúdica e transformadora. Nesse contexto, por meio de desenhos, objetos, material impresso, vídeos e texto, o artista ocupa o espaço de maneira a subverter a hierarquia institucional. Kastelijns dialoga diretamente com Mondriaan e Malevich, sobretudo com a Última Exposição Futurista 0,10, realizada por este último em 1915, evento que marcou o nascimento do Suprematismo. A construção de Kastelijns transita entre o construtivismo e o caos contemporâneo, criando tensões entre ordem e improviso, estrutura e (des)construção. Já na segunda sala, com exceção da instalação Blue on Both Sides, o artista apresenta um amplo repertório de desenhos e pinturas, onde cada trabalho oferece uma experiência singular. Muitas dessas obras são concebidas a partir da grid da construção, explorando suas possibilidades e limites.
Por fim, a exposição de Kastelijns deve ser vista como um grande convite ao público para mergulhar em um universo onde o brincar e o improviso são propostos como antídotos contra as pressões do mundo contemporâneo. Trata-se de uma mostra que se situa entre o lúdico do playground e o rigor suprematista, onde a experimentação e a liberdade se tornam elementos centrais da experiência artística.
Paulo Duarte-Feitoza
Professor de História da Arte e Estética da Universidade Federal de Goiás e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA)
Documentation
Paulo Dourado de Rezende
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